blog sobre o problema do mundo actual que é a Sida

Monday, May 07, 2007

De que forma se tem verificado a transmissão da doença em Portugal?
O HIV é caracterizado por um alto grau de variabilidade genética que resulta da rápida acumulação de mutações e de recombinações. Com base em reconstruções filogenéticas utilizando sequências de ADN, o HIV pode ser dividido em três grupos: grupo O, grupo M e grupo N. A maioria das sequências analisadas pertence ao grupo M. O grupo M é composto por nove subtipos filogeneticamente distintos, os subtipos A, B, C, D, F, G, H, J e K. Os vírus do grupo O e M divergem entre si cerca de 47% ao nível das sequências de aminoácidos do gene ENV. Dentro do grupo M, vírus pertencentes ao mesmo subtipo genético divergem entre si cerca de 3-23%; vírus pertencentes a subtipos diferentes podem ter divergências de 25-35%.
O subtipo de HIV predominante a nível mundial é o subtipo C. É responsável pela maior parte das infecções na África Oriental e do Sul. Foi também detectado na Europa, China, Índia e Brasil. O subtipo A é sobretudo prevalecente na África Central, mas também foi encontrado na Europa, Ásia Oriental e América. Vírus do subtipo G foram encontrados em África mas também na Rússia, Suécia e Bélgica. Os vírus do subtipo B são os vírus prevalecentes na América do Norte e do Sul, na Europa e na Austrália. Foram também já detectados em numerosos outros locais incluindo Tailândia, Japão, África, China, Malásia e Índia. Os CRFs_AE (anteriormente designados de subtipo E) estão associados à epidemia de SIDA sobretudo na Tailândia e China. Foram também já detectados em diferentes países Africanos, na América do Norte e do Sul, Japão, França e Índia. A maior parte dos cerca de indivíduos infectados por HIV do grupo O são residentes ou originários da África Central, sobretudo dos Camarões. Assim, todos os subtipos genéticos estão presentes na África Central, enquanto que apenas um ou dois subtipos predominam noutras partes do mundo. No entanto, dada a elevada mobilidade da maior parte das pessoas em risco de contrair a infecção pelo HIV, é inevitável a progressiva disseminação mundial de todos os subtipos de HIV.
A co-circulação de múltiplos subtipos de HIV num único local favorece episódios de co-infecção, que por sua vez levam ao aparecimento de estirpes virais recombinantes que podem ser viáveis e transmissíveis. Quando os vírus recombinantes se transmitem entre diferentes hospedeiros e originam novas infecções, são designados de formas recombinantes circulatórias (CRFs). Actualmente estão descritos CRFs que resultam da recombinação entre HIV do subtipo A e E (CRF_AE), A e G (CFR_AG), A e B (CFR- AB) e A, G, K e U (U significa sequência genética por classificar) (CRF_AGKU). Recentemente foram também detectados recombinantes entre vírus do grupo M e do grupo O.
A epidemia de SIDA em Portugal tem características específicas que a distinguem da maior parte dos países Europeus. Por um lado o grupo de transmissão que mais contribui para a presente epidemia de SIDA provocada pelo HIV são os drogados endovenosos. Por outro, a presença no país de numerosos indivíduos Africanos provenientes dos Países Africanos de Expressão Portuguesa (PALOPs), bem como os contactos frequentes de Portugueses com estas comunidades Africanas, permitem prever uma elevada heterogeneidade dos subtipos de vírus HIV em circulação em Portugal. Para caracterizar a especificidade da epidemia de SIDA em Portugal e acompanhar a evolução do HIV em Portugal, factores fundamentais para que no futuro se possa prever e controlar eventuais modificações dos actuais padrões epidemiológicos da SIDA, é fundamental conhecer a heterogeneidade molecular da infecção pelo HIV em Portugal e a estudar a sua correlação com os grupos de transmissão e origem geográfica da população. Neste trabalho, caracterizámos genética e serologicamente as estirpes de HIV em circulação em Portugal. São apresentados adicionalmente dois estudos que ilustram a importância da caracterização genética do HIV para o controlo e vigilância epidemiológica da SIDA em Portugal.

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